Mais confusão

Em manhã de tumulto, visitas são liberadas no Complexo do Curado

Amanda Miranda
Amanda Miranda
Publicado em 31/01/2015 às 9:37
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Apesar do tumulto provocado, na manhã deste sábado (31), pelos detentos do Presídio Juiz Antônio Luiz Lins de Barros, uma das três unidades que compõem o Complexo do Curado, no Sancho, na Zona Oeste do Recife, as visitas foram liberadas por volta das 9h. Este sábado é dia de visita íntima. Três reeducandos ficaram feridos na confusão e um veículo do Instituto de Medicina Legal (IML) está em frente ao complexo, embora ainda não haja confirmação de mortes.

De acordo com familiares de detentos, o tumulto começou após as 7h30, pouco depois do horário normal de entrada de companheiros dos presos, que geralmente é a partir das 7h. Devido ao atraso, as mulheres protestaram, subindo nas grades. Ouvindo a gritaria, os presos jogaram pedras pelos muros.

A mudança de horário foi provocada pelo início da Operação 100% Legal do Sindicato dos Agentes Penitenciários de Pernambuco (Sindasp-PE). Segundo os agentes, o horário regulamentado para o início das visitas, que seria cumprido neste sábado, é às 8h30.

"Isso não é motivo para uma rebelião", afirmou o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, em entrevista à Rádio Jornal. "Isso tudo é culpa da falta de estrutura", disse o presidente do Sindasp-PE, Nivaldo de Oliveira Júnior.

Com a confusão, que incluiu tiros de bala de borracha que eram ouvidos de fora do complexo prisional, a entrada de familiares dos presos foi suspensa. Porém, segundo a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), o tumulto havia sido controlado duas horas depois, quando foi retomada. O Batalhão de Choque e o Corpo de Bombeiros estão no local.

Três presos, dois deles não identificados, deram entrada no Hospital Otávio de Freitas, na Zona Oeste do Recife. Desses, um foi visto deixando o Complexo do Curado carregado em um carro de mão desacordado e com um ferimento na cabeça. Outro saiu caminhando, mas com dificuldade e com a barriga machucada. A unidade ainda não divulgou o estado de saúde dos detentos feridos.


Foto: Edmar Melo/JC Imagem | Arte: NE10

SISTEMA EM CRISE - Nos primeiros dias de janeiro, o novo governador de Pernambuco, Paulo Câmara, enfrentou a primeira crise no caótico sistema prisional do Estado. Em apenas quatro meses e uma semana como secretário de ressocialização, Humberto Inojosa renunciou ao cargo. Em seu lugar, assumiu o coronel da PM Eden Vespaziano. Na ocasião, o  secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico, anunciou também um pacote de medidas.

A promessa mais ousada foi acabar com a circulação de armas brancas e celulares nas unidades prisionais, feita três dias depois da Rede Globo divulgar flagrantes registrados no Complexo do Curado.  O sistema prisional do Estado é proporcionalmente o mais superlotado do Brasil, com déficit de agentes penitenciários e policiais militares para a segurança e monitoramento. Hoje, existem cerca de 31 mil detentos onde caberiam 10 mil deles.

No Complexo do Curado, uma rebelião foi deflagrada na véspera de Natal e por pouco detentos não conseguiram fugir por um túnel. A Globo divulgou imagens de presos circulando com facões e celulares, sem serem importunados, no complexo, a maior unidade do Estado. No último dia 7, o Batalhão de Choque foi ao local e fez uma varredura, encontrando cerca de 40 armas e celulares.

A situação ficou ainda pior na semana passada, quando o Complexo do Curado passou por três dias de rebelião, motim de deixou três mortos, dois detentos, um deles decapitado, e um sargento da PM. A reivindicação dos reeducandos era a saída do juiz Luiz Rocha, acusado pelos presos de não ser hábil no julgamento dos processos de progressão de pena e transferências e exigiam melhores condições de convivência dentro das unidades e garantias de que seus familiares seriam melhor tratados em dias de visita. Nessa sexta-feira (30), o esquadrão antibombas foi acionado para desativar uma possível bomba instalada dentro do presídio Frei Damião de Bozzano.

Na mesma semana, os presos da Barreto Campelo também se rebelaram. Eles exigiam mais rapidez no julgamento de processos. De acordo com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, 27 presos ficaram feridos.

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