História

Há 380 anos, Nassau chegava ao Recife para governar o Brasil Holandês

Ingrid Cordeiro
Ingrid Cordeiro
Publicado em 23/01/2017 às 9:02
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Recife foi a cidade escolhida por Nassau para criar a Cidade Maurícia e desenvolver o comércio entre o Brasil Holandês e o novo colonizador / Foto: Diego Nigro / JC Imagem

Recife foi a cidade escolhida por Nassau para criar a Cidade Maurícia e desenvolver o comércio entre o Brasil Holandês e o novo colonizador Foto: Diego Nigro / JC Imagem

Se você estudou um pouco de história na escola  deve saber que não só Pernambuco como uma parte do que hoje é o Nordeste não foi colonizado só pelos portugueses, mas também por um povo de língua difícil: os holandeses. Também deve ser do seu conhecimento que um alemão, à serviço da Holanda, comandou o conhecido “Brasil Holandês e o nome dele era Maurício de Nassau. Pois então, nesta segunda-feira (23) completam-se 380 anos da chegada de Nassau à terra dos altos coqueiros.

O NE10, sempre antenado nas datas históricas de Pernambuco, conversou com o historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Severino da Silva sobre esse momento histórico cheio de curiosidades dos moradores do Recife.

Por que os holandeses invadiram o Nordeste por Pernambuco?

Na época da invasão holandesa, Portugal fazia parte da União Ibérica, que foi o momento em que o país lusitano passou a ser governado pelos espanhóis. Como o país passou a fazer parte da Espanha, herdaram-se os inimigos. “Os holandeses estavam em guerra com a Espanha e a primeira tentativa de invasão foi pela Bahia, que estava bem defendida, como eles perderam lá, decidiram invadir Pernambuco”, explica o professor Severino.

E é aí que muitos se perguntam, por que as terras dos altos coqueiros? Essa é fácil de responder. Na época, a província de Pernambuco era uma grande produtora de açúcar dos tempos coloniais e dava bastante lucro para a coroa espanhola. “Pernambuco era o local de maior produção de açúcar  no mundo. Interessava a eles para poder controlar o comércio do ouro branco no mundo todo, pois tendo o controle do comércio os holandeses atingiriam o fluxo de riqueza da Espanha”, comenta o professor.

E quem era Nassau? Foi ele quem invadiu Recife e Olinda?

O Conde João Maurício de Nassau era um alemão de religião protestante que queria construir uma bela casa na cidade de Haia, na Holanda. No entanto, as coisas não estavam indo tão bem assim financeiramente e, na época, o nobre recebeu uma boa oferta: ser o administrador de umas terras conquistadas pelas Companhias das Índias Ocidentais no Brasil. 

Logo, ele não estava nas caravelas que invadiram Pernambuco. Nassau só chegou em terras recifenses sete anos depois da conquista holandesa, em 1637. Ganhando uma ajuda de custo e um salário, o conde tinha o objetivo de fazer a nova colônia holandesa render. “Nassau era um nobre renascentista que resolveu fazer do Recife o seu projeto de cidade moderna e de Pernambuco, a Nova Holanda. Para isso,  trouxe uma corte, pintores e cientistas como investimentos urbanísticos que não geravam lucro para a Holanda”, explica o historiador Severino da Silva.

Nassau passou sete anos no Brasil e, como um jogador que não rende nas partidas de futebol, não teve o seu contrato renovado. Ele, de fato, desenvolveu o que antes era uma vila de pescadores na cidade mais importante do Brasil Holandês, o Recife ou Mauritsstad, como ele bem gostava de chamar. 

E como os holandeses passaram tanto tempo (24 anos) em Pernambuco?

Com uma elite que os apoiavam e o momento histórico a seu favor. Os novos colonizadores eram comerciantes característicos e, para eles, não interessava conflitos religiosos ou qualquer coisa que pudesse atrapalhar os negócios.

Na época em que Nassau ficou em terras pernambucanas, o relacionamento entre colonos e colonizadores era a melhor possível: “Ele jantava na casa dos senhores de engenho, tinham uma boa relação e, às vezes, ele até tomava partido contra a Holanda em questões como impostos”, diz Severino. 

Com a saída do alemão, as coisas começaram a ficar difíceis para o lado da elite pernambucana. “Depois dele quem governou foi uma comissão de comerciantes e o comportamento deles não agradava os senhores de engenho”. As cobranças de impostos e a descobertas de novas terras para o plantio da cana de açúcar fizeram o negócio que, antes era certeza de lucro, ir por água abaixo e a relação azedou. 

Mas e se os holandeses tivessem ficado aqui nós seríamos mais desenvolvidos?

O professor da UFPE Severino da Silva comenta que esses é um dos piores mitos criados pelo imaginário recifense. “Essa é uma das piores lendas e mitos da história do Brasil”, diz. “Essa história foi criada pela elite pernambucana após a expulsão dos holandeses, porque eles foram obrigados  a pagar a conta dos prejuízos que a Holanda teve aqui”, explica o historiador. 

A história na verdade é essa: em 1640, Portugal conseguiu se libertar do domínio espanhol e houve um acordo entre o país lusitano, a Espanha e a Holanda para que os portugueses não interferissem nas terras holandesas no Brasil. 

Mas, como já sabemos, os pernambucanos não estavam mais satisfeitos com os colonizadores holandeses e decidiram por conta própria tomar de volta as terras para Portugal. “De certa maneira , Pernambuco foi dado pelos portugueses para os holandeses e o exército que lutou contra os holandeses era mestiço, feito de brasileiros, sem apoio dos portugueses”, explica o professor. 

E foi daí que pode ter surgido, segundo o historiador, os  sentimentos de pátria e nação alimentados pelos pernambucanos. “Não existia o Brasil como conhecemos, unificado, então era um nacionalismo pernambucano”, diz Severino.

E para onde foram os holandeses depois de expulsos do Nordeste?

Uma parte foi para o Caribe, em terras jamaicanas, e outra para a América do Norte. Lá, fundaram a colônia de Nova Amsterdã, que mais tarde foi vendida para os ingleses e se tornou a conhecida Nova Iorque. “Na Ilha de Manhattan eles criaram a Nova Amsterdã, mas venderam, até por um preço baixo, para os ingleses”, comenta o historiador. 

Para Severino da Silva os holandeses não foram melhores colonizadores do que os portugueses. “Os holandeses foram piores, porque os portugueses criaram e construíram o Brasil, trouxeram a língua portuguesa, por exemplo, mas os holandeses não são criadores, são comerciantes e eles não criaram nada”, encerra o pesquisador. 

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