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Petrobras e Vale disparam e levam Bolsa à maior alta em nove meses

Rafael Paranhos da Silva
Rafael Paranhos da Silva
Publicado em 27/08/2015 às 19:19
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Para o economista, o bom humor externo foi amenizado pela crise no cena política brasileira / Foto: Getty Images

Para o economista, o bom humor externo foi amenizado pela crise no cena política brasileira Foto: Getty Images

Ações de grandes produtores de matérias-primas como Vale e Petrobras dispararam nesta quinta-feira (27) e impulsionaram o principal índice da Bolsa brasileira, que fechou no azul pelo terceiro dia, no maior nível em nove meses.

O Ibovespa avançou 3,64%, a 47.715 pontos. Foi a maior valorização diária desde 21 de novembro de 2014, quando havia subido 5,02%. As ações preferenciais (sem direito a voto) de Petrobras e Vale avançaram 9,62% e 8,63%, respectivamente, para R$ 8,89 e R$ 13,72. Já os papéis ordinários dessas companhias, com direito a voto, ganharam 11,3% cada um.

"Há um rumor de que o governo chinês está se desfazendo dos títulos do Tesouro americano para financiar os programas de intervenção na China e se capitalizar. É uma maneira de tentar estimular e injetar dinheiro na economia", disse Ana Júlia Dias, executiva da equipe de análises da UM Investimentos.

Esta possibilidade motivou uma retomada nos preços das commodities, segundo Ana, o que beneficiou principalmente as ações de grandes produtoras globais de matérias-primas no dia. Assim, os principais mercados internacionais fecharam no azul: em Nova York, os índices acionários subiram mais de 2%, assim como na Europa.

Também animou os investidores a revisão para cima da segunda estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA para um crescimento de 3,7% no segundo trimestre do ano, em vez dos 2,3% anteriormente previstos.

"O primeiro trimestre havia registrado desempenho fraco em função do clima adverso nos EUA. A economia americana segue em um bom ritmo de crescimento, por isso o indicador foi bem-recebido, mas ainda é preciso cautela com alguns setores", afirmou Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho.

Para o economista, o bom humor externo foi amenizado pela crise no cena política brasileira. As atenções se voltaram à possibilidade de o governo recriar a CPMF, o chamado "imposto do cheque". A medida foi incluída na proposta orçamentária, que aguarda aprovação da presidente Dilma Rousseff.

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade, disse à reportagem ser "absurdo" ressuscitar a taxa. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou na véspera, em entrevista ao canal de TV "GloboNews", que o governo pode recorrer à elevação de impostos para conseguir fechar suas contas.

Ainda no Brasil, o mercado digeriu com cautela a notícia de que o governo federal fechou o mês de julho com um deficit de R$ 7,2 bilhões em suas contas.

MATÉRIAS-PRIMAS E BANCOS - A siderúrgica Gerdau avançou 10,88%, para R$ 5,40. O ganho impulsionou os papéis de sua controladora, a Metalúrgica Gerdau, que subiu 17,67% -a maior alta do Ibovespa. A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e a ação preferencial da Usiminas mostraram valorizações de 9,87% e 5,88%, nesta ordem.

As ações de bancos continuaram nesta quinta-feira a refletir positivamente a aprovação pela comissão do Congresso, na última sessão, da alíquota menor de tributo que incide sobre o lucro das instituições financeiras.

O Banco do Brasil subiu 3,55%, enquanto o Itaú registrou valorização de 3,54% e o papel preferencial do Bradesco mostrou alta de 2,45%. Já o Santander Brasil teve ganho um pouco mais modesto, de 2,36%. O setor bancário é o segmento com maior peso dentro do Ibovespa.

Das 66 ações que compõem o índice, apenas quatro fecharam o dia no vermelho: a Smiles perdeu 0,86%, seguida por Embraer (-0,43%), a varejista Hering (-0,29%) e pela produtora de celulose Suzano (-0,12%).

DÓLAR EM QUEDA - No mercado cambial, a expectativa de que o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) possa demorar um pouco mais para começar a subir a taxa de juros americana trouxe alívio nesta quinta-feira e derrubou o dólar depois de a moeda ter ultrapassado os R$ 3,60 no início da semana.

A cotação do dólar à vista, referência no mercado financeiro, ficou em R$ 3,545 na venda -uma queda de 2,60%. Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, recuou 1,33%, também para R$ 3,552.

O mercado seguiu refletindo positivamente a declaração do presidente do Fed de Nova York, William Dudley, na véspera, de que o início do aperto monetário americano no mês que vem passou a ser "menos convincente" do que há algumas semanas.

"A avaliação é que a atual cautela em relação ao crescimento da China e seus efeitos negativos sobre os mercados globais deve fazer com que o Fed espere um pouco mais para começar a subir os juros nos Estados Unidos", disse Hegedus, da Lopes Filho.

A manutenção do juro americano em seu atual patamar -entre zero e 0,25% ao ano- mantém a atratividade dos ativos em mercados emergentes como o Brasil, que pagam altas taxas de retorno para compensar o risco mais elevado.

Um aperto monetário nos EUA, dizem operadores, deve incentivar o retorno de recursos à economia americana, pressionando a cotação do dólar sobre as moedas emergentes.

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